O termo governabilidade na política é um exercício de inteligência, instinto de sobrevivência e ampliação do capital político.
Em uma democracia com instâncias de poderes representativos, não cabe ao Executivo impor sua agenda de governo, convicções pessoais ou um modelo administrativo que exclua o diálogo e a construção conjunta com os demais poderes. Mesmo não sendo um sistema perfeito, o modelo de pesos e contrapesos é o mais avançado entre todos os sistemas políticos criados ao longo da história.
A democracia exige negociação e a habilidade de saber quais espaços ocupar — e quais não ocupar. Essas regras se aplicam ao exercício do cargo de presidente, governador ou prefeito.
O exercício do poder é um processo coletivo, pois ninguém chega ao poder sozinho. No entanto, a natureza humana é propensa à vaidade, que, no campo político, se revela uma ilusão perigosa. Eventualmente, a conta dessa ilusão chega — e a um preço muito alto. A vaidade no poder é tão imprevisível e instintiva que os próprios mecanismos de governança foram criados para impor limites.
Ao longo da história, o poder desmedido esteve no epicentro das maiores atrocidades humanas. Do imperialismo antigo às monarquias absolutistas, dos regimes totalitários às ditaduras, todos esses modelos foram marcados por um desequilíbrio de poder centralizado. Os pesos e contrapesos surgiram como uma conquista civilizatória para supervisionar o poder e evitar a tirania, garantindo a liberdade individual.
O poder centrado na figura de um regente tinha como premissa principal sua infalibilidade e vontade soberana sobre os demais. Esse poder era frequentemente usado para dizimar contestadores, perseguir dissidentes e silenciar minorias. Os mecanismos contra tiranos são conquistas civilizatórias, mesmo que, ao longo da história, tenham oscilado em sua eficácia. Winston Churchill já dizia que "a eterna vigilância é o preço da liberdade", referindo-se à necessidade de distribuir o poder para evitar abusos.
Porém, se contra a tirania criamos defesas, contra a vaidade no poder não há cura nem mecanismos de punição efetivos. A vaidade humana é instintiva e alimenta a ilusão de superioridade — a crença de que alguém é mais inteligente, predestinado ou infalível. No âmbito pessoal, a vaidade pode ser prejudicial; na política, é um desastre. Seu efeito devastador se manifesta quando o político perde a percepção da realidade e se isola em uma bolha criada por bajuladores.
Para os políticos excessivamente centrados em si mesmos, lembro a famosa cena dos generais romanos vitoriosos. Ao desfilarem em triunfo por Roma, um escravo era colocado em suas carruagens para sussurrar-lhes ao ouvido: "Memento mori" — "Lembra-te de que vais morrer".
Eu acrescentaria: "Lembra-te de que o poder é transitório." A derrota um dia chega — e, com ela, podem vir o ostracismo, a zombaria, a ridicularização e a solidão da ressaca do poder.
Se contra a tirania já demos um passo importante, contra a vaidade os mecanismos são mais subjetivos. Cabe a cada um avaliar seu caminho e seu projeto de vida. Mas se há um conselho essencial para uma carreira política duradoura, ele é simples: humildade.
Manter os pés no chão é o verdadeiro segredo para a longevidade na política.
Prof. Waldeck Alves
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